Amor 3.0: A maldição dos anos 10
O amor é, actualmente, uma definição estranha. Ninguém sabe o que é, como surge, de onde vem e o que significa. O amor tornou-se num conceito utópico que ninguém sabe ao certo definir. É uma sensação que paira no ar e nos arrasa momentaneamente. (Ou será isso paixão?) Vivemos perdidos em etimologias antigas que neste século há muito deixaram de fazer sentido.
Há quem defina o amor como sendo um estado do Facebook, uma demonstração pública de afecto ou uma troca de prendas abismal: a beleza de mostrar ao mundo uma relação, nova ou antiga, na sua plenitude. O problema está aí. O amor não é isso. Não é o que mostramos diariamente aos outros: é o que está nos bastidores. É o que fazemos por nós. O amor deixou de ser o que deveria de ser. O amor passou a ser um estado. É um conjunto de vantagens para um par de pessoas. Um relacionamento amoroso típico é fazer de conta que está tudo bem para os transeuntes. Temos de ser atípicos. Basta.
Muitas pessoas já não ficam juntas por amor; apenas por necessidade, possessividade ou conformismo. Ficam juntas só porque sim. Porque dá jeito. Esquecem-se da sensação que deveriam sentir ao estarem acompanhadas. Deviam-se sentir nas nuvens, alinhar os seus destinos e sorrir juntos. Deviam fugir e viver aventuras, constituir famílias felizes e ver filhos a crescer à velocidade da luz. Porque… Porque quando as pessoas são felizes, o tempo passa a correr. Quando damos por ela, a bengala está na mão e os pés de galinha são o nosso charme.
O Amor 3.0 é muita coisa. Um desespero final. O “amor” vem do Tinder e do OkCupid. O “amor” é um conjunto de palavras escritas num teclado táctil. É uma tentativa de viver sem se estar só. É uma tentativa de não terminar numa solidão eterna. Não é uma tentativa de encontrar a pessoa mais indicada para a vida que queremos levar. O que é isso de “almas gémeas”? Quem é o/a “tal”?
Actualmente é difícil conhecer pessoas fora das teias da Internet. Falo por mim, uma simples millenial. Conhecer pessoas mudou. Os objectivos dos jovens mudaram. Agora as pessoas casam-se pouco antes dos 40 (ou nem se casam) e têm filhos a partir dos 35 (ou nem os têm). É difícil sonhar alto num país repleto de precariedade, verdade?
Mas há pontos positivos: homens e mulheres do mesmo sexo já se podem casar. Porque o que é o casamento? É uma união. Casamento entre pares do mesmo sexo não precisa de ser católico ou islâmico. Basta ser uma união, um registo. As pessoas é que não entendem. Todos temos o direito de amar, mesmo que o amor se tenha tornado num conceito um tanto irreal.
E eu só sei que nasci no século errado. As coisas não deveriam ser assim. Deveriamos poder ficar juntos porque faz sentido. Não porque dá jeito.

As pessoas elas estão tão preocupadas em não estar sozinhas que é mais importante fugir da solidão do que ser/ter companhia. Se tás com o outro para ele te tapar um buraco, a coisa logo por aí não tem pernas para andar.
Primeiramente, a tua escrita é fantástica. Não só em relação a este texto como aos outros que já publicaste neste teu espaço.
Não sou exemplo para ninguém, nem especialista nestas questões porque fui, sou e serei demasiado mau a lidar com este tema. Ou melhor, a minha timidez, por vezes demasiado excessiva, gera ao que chamamos uma bola de neve e, depois… Mas dizem que sou bom conselheiro, o que é estranho, mas adiante.
Sim, deveríamos ficar juntos porque faz sentido. Fugir ao que é fácil e ao que os outros possam pensar, mas por vezes (demasiadas) as pressões e o comodismo ganham e há que aceitar.
Concordo no geral com o que escreveste. A sociedade está a mudar e é preciso saber mudar nós mesmos, evoluir com a sociedade, mas manter aquilo que nos caracteriza, que nos torna únicos. Com isto, digo, pode-se ser romântico no século XXI, porque o romantismo ainda respira vida, só tens de o saber aplicar aos tempos modernos e, mais importante, conquistar alguém que o aceite e que partilhe desse bem escasso.
E nunca cair na tentação desesperada do fácil e de aplicações para par ideal… pressa é inimiga, mais ainda na procura da cara metade. Gostar de nós, esse é o caminho para o amor.
Olá! Obrigada pela resposta. Concordo com tudo. E sim… As coisas acontecem quando menos esperamos, de facto. Procurar incessantemente só nos causa problemas. O objetivo de qualquer vida é mesmo esse: Primeiro vamos gostar de nós próprios e, só depois, de outrem.